Como escolher o seu tapete, isolante e colchonete de montanha. O valor R

Colchonetes de montanha, indispensáveis para os nossos acampamentos e bivaques. Foto: Sea To Summit

Funções dos colchonetes de acampamento

Os colchonetes de montanha pertencem àquele tipo de produtos que, aparentemente, parece que só afetam o conforto, e não a nossa segurança nem o nosso rendimento, mas sim.

Acumular bivaques e noites sem descansar por desconforto, perdendo calor, esgota-nos, e na montanha um baixo rendimento eleva o risco de lesão ou acidente.

Cumprem duas funções:

• Isolar do frio e da humidade.
• Proporcionar conforto.

O alívio para os nossos ossos e a melhoria do sono que o acolchoamento proporciona é importante, mas tão ou mais importante é a sua função isolante. A perda de calor por contacto com a humidade e o frio da terra, mesmo que estejamos sobre o chão da tenda, faz diminuir drasticamente as prestações de um saco-cama.

O que é o valor R de um colchonete isolante

O valor R de um colchonete mede a sua capacidade de resistir à circulação de calor. Chama-se R por isso, porque mede a Resistência a transmitir calor, por isso quanto maior for, menos calor perderemos e mais isolados estaremos.

É um número muito importante para saber a capacidade de isolamento do nosso colchonete. Costuma vir indicado.

O valor mínimo é 1, para situações muito leves de verão. A partir de 3,5 começa a ser suficiente para o inverno (embora seja melhor combinar dois). Quanto maior for, melhor... mas à custa do peso. Os colchonetes de campismo podem ter um valor R até 15... e pesar 4 quilos.

Colchonetes de montanha, indispensáveis para os nossos acampamentos e bivaques. Foto: Juan Korkuera/CT Barrabes

Tipos de colchonetes de montanha

A escolha do colchonete é fortemente influenciada por 3 fatores:

• Peso
• Capacidade de isolamento
• Capacidade de acolchoamento (conforto)

Devemos ponderar esses 3 fatores para encontrar o equilíbrio adequado. Para isso, devemos ter claro o uso geral que vamos dar ao colchonete, em que clima e condições.

Não é o mesmo um bivaque na neve que uma noite de verão no vale. Teremos que chegar a um compromisso conforto-peso-isolamento (embora os colchonetes modernos ultraleves proporcionem um conforto e um isolamento surpreendentes para o seu peso).

Existem 3 tipos principais:

• 1. Espuma
• 2. Insufláveis
• 3. Auto-insufláveis

1. Colchonetes de espuma

São os mais clássicos. Com o tempo, evoluíram de simples colchonetes planos para designs complexos que minimizam o peso e aumentam o conforto e o isolamento.

Colchonete de espuma

Embora no passado tenham existido, e ainda possam ser encontrados em alguns lugares a baixo preço, não são recomendados os de célula aberta, tipo espuma, porque retêm humidade e água. Os que encontramos hoje são de célula fechada, compactos.

Vantagens dos colchonetes de espuma

• Peso mínimo.
• Podem ser transportados fora da mochila.
• Servem para sentar nas paragens, etc.
• Muito baratos
• Muito duráveis. Praticamente inquebráveis. Não há que preocupar-se com a manutenção.
• O seu peso mínimo permite-nos carregá-los para combinar como chão de algum modelo insuflável ou auto-insuflável, algo muito recomendável no inverno por temperatura, e durante todo o ano para evitar furos e rasgos.

Desvantagens dos colchonetes de espuma

• Ocupam muito espaço dobrados (mas podem ser transportados fora da mochila)
• Menor valor R. Não se recomenda o seu uso em condições adversas e de frio intenso (embora sejam muito bons para usar em combinação com um de outro tipo.)
• São os de menor acolchoamento. Ou seja, os mais desconfortáveis

Colchonete de espuma dobrado

2. Colchonetes insufláveis

O sistema é o mesmo que o de um colchonete de praia ou um colchão insuflável: um interior oco que se enche de ar. Mas atenção! Esta é a única semelhança com eles que têm os que são usados na montanha.

São os mais confortáveis, sempre dependendo da espessura: quanto mais confortável, maior o peso. Nos últimos tempos tiveram uma enorme evolução:

• As marcas incorporam isolamento de fibra aos tecidos dos colchonetes, aumentando a sua capacidade térmica, que agora pode chegar a um valor R de 5, consoante os casos.
• Os novos materiais reduziram o peso de forma notável sem grande prejuízo para a resistência. Por si só, devido ao seu interior oco, sempre foram bastante leves e os mais compactáveis.

Colchonete Sea To Summit ultraleve e com bom valor R. Foto: Sea To Summit

Vantagens dos colchonetes insufláveis

• Grande conforto
• Podem ser dobrados muito, ocupando pouco espaço na mochila
• Leves (os modelos de montanha estão entre os 250 e os 500 gramas)
• Os modelos modernos atingem valores R até superiores a 5, para uso invernal.

Desvantagens dos colchonetes insufláveis

• Menos resistentes, podem furar e rasgar (embora sejam reparados no local). Algo delicados para uso intensivo em montanha.
• Neste tipo de colchonete, a combinação ultraleve-resistente tem preço: os colchonetes que cumprem ambas as condições costumam ser caros
• Não costuma acontecer mas, no inverno, a humidade do nosso hálito ao enchê-los pode congelar no interior, criando problemas de rutura.
• As flutuações de temperatura modificam as pressão do ar, pelo que pode haver sensação de que o colchonete se vai desinflando durante a noite.
• Não se recomenda o seu uso em bivaques em contacto direto com o solo. Podem ser combinados com um de espuma ou outro sistema de proteção.
• Nem sempre é agradável encher a sopro na montanha depois de um longo dia.

Sobre o último ponto, e o problema da humidade no inverno, neste momento vendem-se insufladores para montanha que mal ocupam espaço e com um peso de 50 gramas.

Colchonete insuflável Sea To Summit. Foto: Sea To Summit

3. Colchonetes auto-insufláveis

Cuidado com o nome, porque leva a confusão. Não são o que parecem.

Como diria que são? A maioria das pessoas que não os conhece pensa que, à semelhança de um colchão insuflável dos que se têm em casa para o caso de chegarem mais convidados do que o previsto, são colchonetes insufláveis, como os do parágrafo anterior, só que com um sistema de enchimento automático.

Pois não. Os usados para ar livre e natureza são uma espécie de híbrido entre os de espuma e os insufláveis, combinando a capacidade isolante da espuma e o conforto do ar.

Ou seja: o seu interior leva uma estrutura de células de espuma, com espaços para ar. Quando os dobramos, comprimimos todas estas células, eliminando os espaços para ar. Assim, ao desdobrá-lo, as células de espuma expandem-se ao seu tamanho normal, fazendo o trabalho de sucção através da válvula aberta, enchendo de ar as câmaras do interior (com uma ligeira ajuda pulmonar em muitas ocasiões).

Colchonetes auto-insufláveis. Foto: Sea to Summit

Vantagens dos colchonetes auto-insufláveis

• Costumam ser muito quentes, excelentes para usar no inverno (embora haja modelos leves com menor número R)
• Mais resistentes que os insufláveis, mais difícil de furar, bons para uso em montanha.
• Evitam a sensação de perda de ar.
• Mais consistentes que os insufláveis, pela sua estrutura de espuma, mais confortáveis que os de espuma, pelas suas câmaras de ar.
• Mais baratos que os insufláveis
• Possibilidade de regular a dureza com mais ou menos ar (a consistência do interior de células de espuma já representa uma estrutura que permite não encher tanto como um insuflável).
• Vamos com uma obviedade: auto-insuflam-se (embora às vezes seja preciso dar-lhes uma ajuda)

Desvantagens dos colchonetes auto-insufláveis

• Mais pesados que os insufláveis e os de espuma (embora os últimos modelos tenham reduzido bastante o peso, costumam passar dos 500 gramas. Acima de um quilo são de campismo)
• Menos compactos ao dobrar que os insufláveis; a sua estrutura de células de espuma faz com que ocupem mais espaço dentro da nossa mochila (embora haja modelos de gama alta atuais que ocupam menos que um cantil)
• Também não é recomendável o seu uso direto com o solo no exterior (embora resistam mais que os insufláveis)

Escolha do comprimento e largura

Todos os colchonetes têm tamanhos. Não é só uma questão de tamanho da pessoa utilizadora; há quem, para poupar peso e espaço dobrado, especialmente no caso dos auto-insufláveis, use colchonetes curtos independentemente da sua altura.

Porquê?

Poupa-se peso, poupa-se espaço na mochila, mas continuamos protegidos: o tronco fica dentro, e as zonas que ficam fora dele podem ser isoladas colocando-as sobre a mochila, no caso da parte inferior das pernas ou pés, ou em algum tipo de almofada, no caso da cabeça.

Não há que enganar-se: não é tão confortável, nem estaremos tão isolados. Mas quando o peso é crucial, cumpre a sua função.

Para aliviar, os colchonetes mais técnicos atuais têm forma de múmia, não retangular. Estão bem, poupam peso e espaço comprimidos, mas limitam os movimentos.

Mais uma vez, cada um tem que avaliar os prós e os contras da sua escolha: haverá quem olhe para a grama, haverá quem prefira carregar mais peso e dormir com algo mais de conforto.

Foto: Sea To Summit

Qual o melhor colchonete para si?

Cada um deve decidir e encontrar o ponto perfeito entre conforto, resistência, valor R e peso.

Algumas sugestões em forma de exemplos:

• Se vamos acampar com o carro, sem problemas de peso e espaço, podemos escolher um colchonete insuflável grosso.
• Se vamos ter que carregá-lo na mochila, e podemos encontrar más condições, um auto-insuflável leve, ou um insuflável (com proteção no chão em caso de bivaque).
• No verão, com menor necessidade de isolamento, podemos optar por um de espuma privilegiando a leveza, especialmente em travessias de muitas noites consecutivas o colchonete, pela sua total resistência e durabilidade. Isso sim: perderemos algum conforto. Mas qualquer um de outro tipo cumprirá a sua função excelentemente.
• No inverno auto-insuflável (principalmente) ou insuflável com capacidade calorífica. É muito recomendável combinar ambos com um de espuma como chão, especialmente no caso dos insufláveis; mal pesa, e transportamo-lo fora da mochila.

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